Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Carlos Drummond de Andrade
sábado, 29 de dezembro de 2012
TEMPESTADE
Desci do céu em um dia nublado
Entre dores e sentimentos imersos
Minha visão pode sentir o estrago
Quando um a um rasguei seus versos
Num dia cinza feito asa de pardal
Senti-me o soldado e a ferida
Esperando o fim da guerra do mal
Esperando algum sinal de vida
Quando tarde vi as marcas profundas
Que teus pés deixaram no espelho
Refletindo sangue e não vermelho
Minhas letras então murcharam sem luz
Pois que eram negros teus silêncios
Deixando eternos apenas lamentos
O QUE EU QUERIA
Queria em silencio que soubesse
Que a saudade é implacável
Que cada segundo morro numa prece
Que sem você não sou mau nem amável
Que compartilho com deus e o diabo
A dor infindável da sua falta
Que respiro e vivo triste fado
Cantado por um peito que se exalta
Que minhas noites são apenas espera
Que meus dias terminam sem começar
Que teus olhos me devoram feito fera
Preciso que entendas um a um
Os urgentes motivos dessas letras
Que sem você meus pés são lugar algum
VIDA VAZIA
Ia me passando a zero a vida
Inda que tanto já fora vivido
Ah!Seria não a houvesse conhecido
A bebi de ti ser feliz querida
Minh’alma tímida por alegrias
Viveu em um ano a eternidade
Em seus lábios todas as idades
Mesmo sabedor que o fim não tardaria
Não têm fim os versos que ainda brotam
Dessa terra fértil onde pisaste
Nesse peito que queira ou não, herdaste
Passa agora lentamente a vida
E poderia deixá-la nesse instante
Pois não há nesse mundo o que me encante
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
O MONSTRO
Tinha um monstro
Mas não sob a cama
Não era na janela
Nem o vento na rama
Era horrível o ser
No guarda roupas paz
Mas o sossego jaz
Porque mesmo sem ser
Era
E sendo todos os vultos
Era também todos os medos
Todas as idéias
E pela manhã ele se transformava
Em cortina, roupas e segredos
terça-feira, 6 de novembro de 2012
LAPIDE
Uma lapide infeliz
De quem se diz
O mundo se perdeu
E quem fui eu?
Tudo passa feito ventania
Tudo morre e muito se cria
Mas no fundo do fim
Ai da vida e ai de mim.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
NOITE
Quantas vezes o grito abafado
Lamenta o silencio desse mundo
Chorando La dentro nu e calado
No espelho um ser feio e nulo
Degraus infinitos sem corre mão
Estendem-se estreitos e quebrados
E sozinho sem amigos ou irmãos
Sigo trôpego doente e cansado
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
DESEJO
Porque o desejo de fazer de ti
O todo que sobra nessa falta
É o sonho que invade, chora e ri.
E faz meu peito sua ribalta
Se olhares por trás dessa fraqueza
Que aos teus olhos insiste existir
Deixar-se-ia rainha ou deusa
Única em meu reino se se permitir
Terias flores transbordando seus vasos
Poucas afirmo e não sou louco
Pois que imagino um jardim seu corpo
É possível que de tantas palavras
Se o desejo em ti não fizer vento
Talvez nunca saibas o que intento
DEMÔNIO E SOLIDÃO
Venha o demônio com suas hostes
Trazendo o fogo de toda dor
Queime tal fora o pentecostes
Tente a sorte mas saiba...
Todo o mal desse universo
É nada perto do que sinto
Eu jamais pedirei perdão
Já pedi pizza pra um
Eu
tenho a solidão
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
SINS E NÃOS
E eu até que pensei
Na primeira luz de te olhar
Eu sabia que iríamos
Mesmo que aos nãos
Desembocar em algum lugar
E foram os malditos sins
Que quebrando elos um a um
Criaram atalhos
E nos levaram
Ao lugar algum
segunda-feira, 25 de junho de 2012
VOCÊ FOI...
Você foi minha ultima ilusão
No engano de tantas miragens
Mesmo velho de tantas viagens
Você foi da vida minha ultima lição
Por amor me perdi da sanidade
Na mansidão das nossas carências
A sua com prazo de validade
A minha podre de tanta ausência
Você foi tudo o que jamais deveria
Um demônio angelical insone
Sugando-me o ar noite e dia
Você foi o absoluto perfeito
Nas maravilhosas noites de amor
Em meus versos serás eterna, minha flor.
SER POETA
O mal em ser poeta
É só nascer depois de morto
Versos só respiram
Quando órfãos
Poeta vive torto
Suas letras deliram
É a loucura dos sãos
Bom é ser poeta
Insanidade que liberta
terça-feira, 12 de junho de 2012
PRA TE PEDIR EM NAMORO
Pra te pedir em namoro me superei
Decidi massacrar minha timidez
Cortei o cabelo,fiz a barba
Respirei fundo e me entreguei
Eu não perderia pra vida outra vez
Mesmo que muito pesada à carga
Andei muito a encontrar uma flor
Que fosse digna da sua luz
Única testemunha
Dos versos de amor
Que demoradamente compus
Reservei a melhor mesa
E o melhor quarto de motel
Eu não imaginava a tristeza
Do que se tornaria esse cordel
Enquanto em meus detalhados planos
Eu sonhava com você e o paraíso
E você jamais saberá
Na calada outro roubou meus sonhos
Eu fiquei com o inferno
E o prejuízo
domingo, 10 de junho de 2012
VIDA PERDIDA
Bom seria que fosse verdade
E seria sonho se verdade fosse
Que ainda jovem a flor do nada
Na raiz do quase viver
Um menino
A caminho sei lá de onde
Pelos trilhos do trem de alguma estrada
A imaginar o futuro quase incerto
Descobrir onde ele se esconde
E do alto dos seus poucos anos
Se ver já um homem
Pela alma enrugada
E chorar por...
Não ter visto os anos
Que o atropelaram sem piedade
E mesmo assim
Não sentir saudades
Bom seria não ser ver adulto
Se julgando um menino
Sonhando o futuro
Que já é fim de assunto.
MEU QUARTO E MINHA RUA.
Do alto desse velho sobrado
Pelos vãos da persiana
Pela janela cuidando o vai e vem
Moro em uma rua agitada
Carros e gente por todos os lados
Por aqui só não passa trem
Com ou sem chuva é uma loucura animada
Hoje eu decidi me divertir
Enquanto a preguiça me assalta
Contando os carros
As pessoas
Quase os pingos dessa chuva
Mas o que eu queria mesmo
Era contar
No seu ouvido
Nesse quarto
A sua falta
quinta-feira, 3 de maio de 2012
ENTRISTECE-ME
Entristece-me saber que estás feliz
Não porque andas rindo com motivoMesmo porque teu olhar se contradiz
Ao negar de nós um cadáver vivo
E mesmo tal sendo todo meu desejo
Cerro meus dentes nesse falso sorrir
Pois vivo e morro mil vezes teu beijo
Faz-me chorar n’alma tantas saudades
Lembrando-me de que não fomos por um triz
Vivo lancinante impiedosa dor
Porque brilhas e não sou eu o causador
sábado, 21 de abril de 2012
FANTASMA
Acordei com um fantasma interrogador
Sussurrando ventos em meus ouvidos
Porque escreves tantos versos de amor
Na magoa de um apenas vivido
Te esqueces pelo visto das alegrias
De tantas paixões vida afora
Te esqueces dos gozos durando dias
Te esqueces e por tão pouco choras
Ora, alma penada que nada sabe.
É certo que muitas vidas foram vividas
É certo que morreram em si mesmas
Perdeste o sol que brilhou minha tez
Porque Minh ‘alma vive dor eterna
Pois que amor só conheci uma vez
sexta-feira, 20 de abril de 2012
TALVEZ
Talvez não tenha sido como foi
Pelos tantos caminhos andadosTalvez os passos fossem acaso
Em uma pressa de olhos alados
Talvez seja o que jamais poderia
E o desejo assim como nada
Mesmo que nascido do temporal
Talvez saibamos como seria
Na insanidade de tudo que foi feito
Na estrada larga o destino final
Talvez morramos na minha poesia
E o tempo borre cada letra
Pois que teus olhos são a tinta
Toda noite
Todo diadomingo, 1 de abril de 2012
SAUDADES
Morte é saudade enquanto viva
E em paz sinto tantas de tudoQue seja doença e sofro mudo
Que sejam breves os dias se for vida
Onde uma flor mais bela que a lua
Dona de um par de asas com meu nome
Faz-se voar feito fada me fazendo rua
Retratos cor de sol pelo tempo feito
Verdades vizinhas de um segundo
Saudade é ferida viva que pulsa
Que atormenta as eternidades
sexta-feira, 30 de março de 2012
SOFRIMENTO
Nada que perder da bagagem agora
Já me vi dono de tanta riqueza
Hoje trôpego a margem da estrada
Passos infinitos fuga afora
Nunca tem no horizonte
Se pondo ou nascendo
Algum sol
Mas eterna a sombra
Do teu semblante
terça-feira, 20 de março de 2012
TORTURA
Algo corroendo feito traça
Algo parido no fundo da maldade
Feito fantasma por trás da vidraça
Cuidando o caos da fragilidade
Falo dos teus olhos que não me libertam
Que não se fecham nos meus mesmo à morte
Falo dos seus olhos que já não flertam
Falo do inferno que levo por sorte
No passado agora assombrado
Escuro e frio do teu semblante
Falta-me ver algo ser amado
Sobram frios gemidos nas sombras
Olhos assustados de quem tortura
Fitam saudades que hoje amargura
sábado, 10 de março de 2012
LABIOS
Tive lábios de falar dias e noites
Lábios fartos do mel amargo do amor
Tive lábios sedentos por oceanos
Muitas vezes em uma gota saciados
Lábios que tocaram e sangraram o céu
E que morreram queimados no inferno
Enganados
Tiveste seu e eterno os meus
E veneno ou remédio
Raso ou profundo
Tenho lábios de inverno
Lábios que cerram todos os porquês
Que matam o sol que nem nasceu
Lábios nascidos das trevas
No fundo ainda incógnito
Dos olhos teus
sábado, 14 de janeiro de 2012
FUGA
Nesse canto só cabe meu semblante
Acusado ser o que todos se fazem
Volto ao meu eu eterno de antes
Fujo dessa cova onde todos jazem
Eram todos irmãos da mesma cor
Vivendo a paz de uma mãe aflita
Eram hipócritas gozando na dor
Disputando a herança maldita
Quase um hippie em tempos modernos
Me largo de tudo nesse mar seco
Não sofro com invernos ou infernos
Meu grito é o silencio escrito
Meu lugar é essa fuga insana
Meu eu é esse vocês que eu evito
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
SONHO MORTO
Como podes tamanha facilidade
Criar muros ante a noite abissal
Que nasceu da sua dor realidade
E na fuga privar-me ser luz no teu mal
Voei feito passaro apressado
Na ânsia do ninho repousar as penas
Dei-me com um grande olhar congelado
Distancia maldita que te envenena
Ao longe as ondas da tua tormenta
Tão claras brilham quase em lagrimas
Tão grandes gritam e o cais se lamenta
Seria eu um porto a pisar teus pés
Fosse seu coração terra habitável
Não fosse eu um covarde detestável
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